O impacto das mudanças no RH

Muitas empresas têm acompanhado diversas mudanças no RH. O departamento até então conhecido como Recursos Humanos, começou a ser chamado de “área de gente”.
O nome funcionário mudou para colaborador; equipe, para time. Mas e o olhar das empresas para aquelas pessoas que estão ali diariamente, dando seu suor por projetos e realizações, realmente mudou?
Estamos sim caminhando para uma evolução nesse sentido, porém os passos ainda são lentos. E o motivo é simples: dentro das empresas há humanos que ainda não estão humanizados.
Não quero colocá-los como culpados, vilões, ou algo assim, todos nós aprendemos desta forma há muitos anos. E realmente é difícil desaprender.
Temos estudado inteligência emocional, empatia, humanização de ambiente. Temas que poderiam ter sido ensinados em casa, desde a infância, por nossos pais. Mas eles também não aprenderam… e os pais deles, também não.
O conceito de inteligência emocional só foi definido academicamente em 1990. Daniel Goleman o popularizou em 1995, ou seja, há 25 anos. Contudo, nosso conhecimento sobre sua importância e sobre seu impacto na vida pessoal, social e profissional das pessoas foi ampliado apenas recentemente.
Mudanças no RH – o antes e depois
Quero contar alguns casos como exemplos para mostrar o “antes e depois” que tem marcado as mudanças no RH.
Trabalhei com um colega que dizia sempre para a sua equipe que não somos contratados para ser felizes. Mas sim, para dar resultados às empresas.
Tínhamos muitas discussões porque, às vezes, ele queria afirmar isso em meus treinamentos. E eu sou absolutamente contra.
Porém era nisso que ele acreditava. Ele não era o dono da empresa. Provavelmente, essa crença refletia em sua vida porque alguém o havia contratado apenas para dar resultado, estivesse ele feliz ou infeliz.
Recentemente o encontrei e ele me contava sobre seu novo trabalho. Disse que preferia trabalhar com menos estresse, mesmo que fosse para ganhar menos. Queria ter mais qualidade de vida.
Pensei: será que ele dá mais ou menos resultado sendo feliz?
Outro breve exemplo
Certa vez, tive a certeza de ter cometido um equívoco ao contratar uma pessoa para trabalhar em minha equipe.
Estava formatando uma nova área de atendimento consultivo ao cliente, e Julia foi a que mais se destacou na entrevista. Contratei-a.
Um mês depois, Julia fui ao RH para dizer que estava na área errada, que não gostava de falar ao telefone com o cliente. Preferia responder e-mail, e gostava de solucionar problemões. Sua lista de tarefas tinha muitas coisas simples e corriqueiras para resolver, mas ela não se sentia desafiada com isso.
Então, decidi desenvolvê-la e desafiá-la, até que surgisse uma vaga mais adequada ao seu perfil.
Descobri que ela adorava trabalhar com planilhas e análises, ao que comecei a passar alguns de meus relatórios para ela desenvolver. Enquanto isso, aprimorava sua habilidade de falar ao telefone.
Aos poucos, Julia estava mais feliz e trazendo muitos resultados.
E aí pensei: mas e as outras pessoas da equipe, se sentirão desvalorizadas?
Era hora de descobrir o que as motivava. Fui dando responsabilidades diferentes para cada uma. E o clima estava ficando interessante.
Mas as mudanças no RH nem sempre ocorrem como gostaríamos e acabei ficando pouco tempo nessa área. Logo entrou um novo líder, que implantou a gestão igualitária, afinal sempre aprendemos que precisamos ser justos, e dar responsabilidades iguais para todos!
Ou seja, Julia precisava dividir sua função de desenvolver planilhas com outros colegas da equipe, que não gostavam nada disso.
E os colegas também precisavam dividir suas responsabilidades, esta forma, ficariam todos dentro da mesma “caixinha”. Julia perdeu totalmente sua motivação. E a empresa perdeu a funcionária, que acabou pedindo demissão.
O olhar humano
Nesse ponto você pode até me questionar: mas não é preciso ter uma definição de cargos e funções iguais para todos os que estão no mesmo patamar?
E eu te respondo com uma reflexão: será? Que olhar humano estaríamos colocando em cada pessoa da equipe? Todas as pessoas são iguais?
Aprendemos que a pessoa até pode ser feliz, desde que esteja “dentro da caixa” já formatada.
No entanto, sempre digo que temos capacidade de aprender tudo o que quisermos. E muitas vezes, para aprender o novo, é preciso desaprender o velho. E este é o desafio da nova humanidade.
Suleima Omar é empreendedora, palestrante, coach e mentora de liderança feminina, caminho que decidiu seguir após mais de 20 anos de carreira em grandes empresas como McDonald’s e Mahogany Cosméticos. Atualmente, estuda Neurociências e Comportamento pela USP e publica artigos periodicamente na Revista Líder Coach e em seu site.